PEDRA ROCK 2025 - Nos Moleanos É Sempre A Partir

Fotografia e texto: Íris Disruptiva
A caminho dos Moleanos, passo pelas várias pedreiras na N1 e ocorre-me que este festival tem tanto de natural como de subversivo.
O que haverá no coração daqueles que precisam de música, suor e bramidos, como de pão para a boca? Rumo à aldeia, paralela à paisagem predominante da indústria, vem uma multidão mortinha por começar a partir pedra.
BONNY JACK (A CALCITE AMARELA)
Bonny Jack, vem de Roma e identifica~se com o “dark folk & blues”. Falou-me da calcite amarela que leva no bolso em todos os espetáculos e de todos os objectos que o acompanham na sua itinerância. Chocalhos, tambores xamânicos, tudo ao serviço duma experiência poderosa e com fortes âncoras na ancestralidade.
OFFTIDES (O XISTO METAMÓRFICO)
A metamorfose dos Offtides dança ao ritmo de uma manada de gogo dancers enraivecidas. Assumem-se como reivindicativos e a sua manifestação deixa o caos à solta. Tudo vibra e reverbera, incluindo shots não identificados servidos em mãos e sorvidos à pressa. O público acolhe a sua energia e devolve em tom de desafio, e assim, vão escalando os níveis de libertinagem até ao encore.
CAVE STORY (A CAVERNA CALCÁRIA)
A caverna onde ecoam a música que lhes vem das entranhas, resulta do seu caráter solúvel que se molda a influências muito divergentes. Ali deixa-mo-nos envolver pela aura das profundezas e o mergulho tem fim só na erupção involuntária, de cima para baixo, nas cabeças que acenam ritmadas pela bateria em fúria.
BALEIA BALEIA BALEIA (DO GRANITO AO MAGMA)
Os moços do Porto fazem-se eclodir no seio de um calor infernal. De tronco nu, fundem-se com os corpos incandescentes que se amontoam e colidem na frente do palco. Apelam à gentileza, semeiam a euforia e rejeitam a qualquer estilhaço de violência. É para abanar a anca no mosh, é para soltar a franga desde o núcleo até à superfície. Um concerto que também é uma limpeza energética: acabámos felizes e lavadinhos em suor.
CAPSULA (O ARENITO DE SIERRA BAYAS)
Os CAPSULA vêm de Buenos Aires e sedimentam-se em vários géneros, desde o glam-rock ao garage psicadélico. Erguem-se como imponentes formações rochosas de grande beleza e abatem-se sobre o público em derrocada. É inebriante e impossível ignorar a mestria com que nos conduzem mais uma vez à histeria, mesmo já na reta final de uma noite fulminante.
MR. GALLINI (O QUARTZO ROSA DO AMOR)
Mal fadado pela inevitabilidade da sua existência, a XV edição do Pedra Rock tinha de acabar. O fim chegou pelas mãos amorosas do Mr. Gallini. Inspirado pela energia de um cristal de quartzo rosa que lhe fora dado pelo xamã dos blues Bonny Jack, dispôs-se a amplificar o amor incondicional no universo. Muniu-se de toda a sabedoria das almas irreverentes e serviu-nos um DJ set com sabor a punk rock dos anos 70. Quando foi hora de fechar a loja ficámos a chorar por mais. Relutantes na partida, fomos com vontade de voltar. Assim o faremos, fica a promessa.